Hoje o afete-se abordará um pouco sobre a teoria de sistemas de Murray Bowen. A partir das exposições realizadas no artigo de Papero (1994), foi possível obter diversas informações acerca dos conceitos interligados nesta abordagem sistêmica.
Bowen desenvolveu a sua teoria por meio da observação de famílias com intuito de investigar não o que as famílias dizem fazer, mas o que realmente fazem. Com isso, o autor considerou a família como uma unidade emocional, ou seja, como um sistema em que a alteração em uma de suas partes ocasiona mudanças compensatórias em outras partes que o formam.
A partir do conceito de unidade emocional, Bowen expõe que os sintomas emergem a partir de uma mudança no funcionamento familiar, como forma de minimizar as perturbações no funcionamento natural do sistema.
Acerca destas alterações e mudanças que as famílias passam, Bowen incluiu o conceito de sistema emocional, o qual é um legado da evolução. Todos os seres vivos possuem, em diferentes níveis de complexidade, forças de vida e sistemas que regulam seus comportamentos. Sendo assim, o complexo funcionamento humano também sofre influência dos sistemas emocionais, e dependendendo da forma como se constitui a relação com esse sistemas, surgem diversas formas de comportamentos, e níveis de estruturação do eu.
Com isso, é possível introduzir o conceito de diferenciação do eu que será o enfoque deste post. Este conceito de Bowen enfoca que as pessoas se diferenciam uma das outras em termos de funcionamento, mas, afinal, o que seria isso? Ele formulou uma escala de diferenciação do ego (utilizado como sinônimo de “eu”). Essa escala varia de 0 a 100 e diz respeito ao nível de maturidade emocional do indivíduo. Pode-se dizer que é o grau em que as pessoas se fusionam, ou se fundem emocionalmente uma com as outras para criar um eu comum (Papero, 1994). Bowen nomeia esse fenômeno, nas famílias, como unicidade emocional familiar ou massa egóico-familiar indiferenciada.
Segundo Papero (1994), a teoria de Bowen também relata que a diferenciação do ego possui como ponto central a relação primária com seus pais. Ressalta que, tanto os pais quanto as crianças, desenvolvem-se rumo a uma maior autonomia emocional. Um dos empecilhos, no desenvolvimento desta capacidade na criança, é o nível de diferenciação e ansiedade crônica presente nos genitores. O autor traz um exemplo que deixa claro esta concepção: “quanto mais os pais necessitam da criança para completar seus próprios egos parciais, mas a criança desenvolverá a necessidade de outra pessoa para completar o seu.” Papero (1994, p. 78).
Com a exposição no parágrafo anterior, cabe acrescentar que, quando a separação emocional dos pais com a criança ocorre de forma incompleta, eles vivem em vários níveis de uma relação simbiótica, construindo, assim, ligações emocionais não-resolvidas. Essa última é denominada como um estado de indiferenciação. Essa fusão é influenciada por três fatores: 1- grau de indiferenciação dos pais; 2- como os pais administram esta ligação em sua própria união conjugal; 3- grau de ansiedade que os pais foram expostos, assim como suas respectivas famílias, em diferentes momentos de suas vidas.
Além das questões acima , a diferenciação do ego também impacta em como o indivíduo toma decisões a partir de seu sistema emocional (ou seja, automático), e a partir do sistema intelectual que diz respeito a capacidade de raciocínio da pessoa. Cabe ressaltar que, a relação do indivíduo com esses sistemas, não refere-se a superioridade de um sobre o outro, mas a capacidade do sujeito discriminar entre os dois sistemas (intelectual e emocional) de acordo com a situação o qual ele está.
A capacidade que as pessoas têm de se distinguir umas das outras também reflete na forma como elas lidam com os desafios da vida. Uma pessoa que possui um grau de diferenciação menor, tende a dar respostas regidas mais pelo sistema emocional, do que pelo sistema intelectual.
Outro fenômeno, que está relacionado com o de diferenciação, é o da ansiedade. A ansiedade crônica, ou seja, aquela que acontece independente de possuir um objetivo aparente, muitas vezes se manifesta na unidade familiar alterando o seu funcionamento. Regularmente até mesmo a ansiedade individual manifesta-se no sistema, ocasionando assim o surgimento de sintomas ou da triangulação.
A equipe do afete-se trará outros posts falando sobre a triangulação e outros conceitos de Bowen.
Até mais.
Referências
Papero, D. V. (1994). Teoria sobre os sistemas familiares de Bowen (Cap. 2, pp. 71-100). São Paulo: Summus editorial
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