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Cineme-se: Estudo do filme "3.096 dias"

O filme 3.096 dias de cativeiro conta a história de Natascha Kampusch, uma menina sequestrada no caminho para a escola em 2 de março de 1988 com dez anos de idade, no distrito de Donaustadt, na Áustria, e mantida em cativeiro até 23 de agosto de 2006, quando consegue fugir. Seu raptor, Wolfgang Přiklopil, a privava de luz e comida, além de torturá-la, física, sexual e psicologicamente, suicidou-se após a fuga.


Natascha foi vitimada diversas vezes antes, durante e depois da sua vivência em cativeiro. Antes tinha problemas de auto-imagem, derivados de seus conflitos e não adequação aos padrões corporais da mãe, muitos desses conflitos chegaram à violência física, como é possível ver na cena em que Natascha, logo antes de sair de casa, leva um tapa. Era exposta a contextos não adequados para crianças, como nas cenas iniciais nas quais se encontra em um bar com o pai; ademais, presenciava as brigas conjugais de seus pais, que culminaram na separação. Ressalta-se que no Brasil, é crime expor criança ou adolescente a qualquer forma de violência (Lei n. 13.431, 2017).


Já no cativeiro, Natascha teve que lidar com múltiplos tipos de violência por parte de seu agressor. Violência psicológica – quando Wolfgang diz que pediu o resgate para a família de Natascha e eles se negaram a pagar; e, quando fica repetindo “obedeça-me” ao telefone, fazendo com que, mais tarde, Natascha não consiga pedir ajuda relembrando da frase. Além disso, Wolfgang muda o nome de Natasha para Bibiana, e como ela descreve em seu livro: “(…) porque então eu tinha de pintar o cabelo de loiro para me adequar à imagem que ele tinha da mulher ideal: loira, obediente e trabalhadora.” (Kampush, 2010, p. 171 e 172). Violência física e sexual – quando é espancada, ao ponto de criar um diário de agressões, e é estuprada repetidas vezes. E violência simbólica – pela restrição do que ela lia e acessava para estudar.


O caso repercutiu fortemente no país e gerou discussões até mesmo sobre como Natascha portou-se após fugir. As desconfianças e julgamentos sofridos por Natascha após o término do sequestro são pouco considerados quando se fala das violências sofridas por ela. Apesar desse parecer ser seu maior estressor devido à pressão social e pela violência que a faz duvidar do que mais se esforçou para manter durante o cativeiro, sua identidade.


Em um trecho de seu livro autobiográfico Kampusch (2010, p. 218) descreve: “Parecia que a verdade terrível não era terrível o bastante, então eles [mídia] acrescentavam coisas muito além do suportável, negando, com isso, minha autoridade como intérprete do que eu vivera.”. A partir do momento em que se recusou ser a vítima sempre enfraquecida e passou a ditar as regras de sua própria vida, o público voltou-se contra ela, chamando-a de ingrata e colocando em dúvida seu sofrimento durante o cativeiro.


Referências

  • Kampush, N. (2010). 3.096 dias (A. Resende, Trans). Campinas, São Paulo: Versus Editora. doi: 978.85.7686.107.

  • Lei n. 13.431, de 04 de abril de 2017. (2017). Estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência e altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Brasília. Retirado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13431.htm

  • Moszkowicz, M. (Producer), & Hormann, S. (Director). (2013). 3.096 dias de cativeiro [Motion picture]. Munique: Constantin Film.

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