No dia 27 de Janeiro, é comemorado o dia internacional em Memória às Vítimas do Holocausto. Este dia faz referência à descoberta, pelas tropas soviéticas, do campo de concentração e extermínio nazista de Auschwitz-Birkenau (Unesco, 2019).
Em virtude disso, além de relembrar a importância deste dia, o afete-se decidiu trazer o “Experimento de Milgram”, que buscou investigar as características deste fenômeno utilizando-se da seguinte pergunta norteadora: como as pessoas transgrediram valores, questões éticas e morais, e causaram dor e sofrimento às pessoas inocentes? Stanley Milgram, nascido em uma família judia que fugiu da perseguição nazista, tinha motivações pessoais para estudar as nuances envolvidas no processo da obediência. Sendo assim, realizou um experimento na Universidade de Yale em 1962, a fim de pesquisar sobre a punição como método de aprendizagem (Veloso, 2017).
Experimento
Para realizar o experimento, Milgram contou com a participação voluntária de 40 homens entre as idades de 20 a 50 anos. Eles se dividiam em duplas, interpretando dois papéis: o de professor e o de aluno. O papel do aluno era realizar exercícios de memorização e, caso ele errasse, o professor deveria lhe aplicar um choque. Os choques variaram entre as voltagens de 15 a 450 volts. Durante o experimento, os alunos emitiram diversas respostas, como gritos ou silêncios (quando a voltagem era muito intensa). O “professor” inicialmente recebia do pesquisador um choque de 45 volts, com intuito de conscientizar o participante da dor que ele estaria infligindo no aluno.
A maioria dos participantes (65%) progrediram até a voltagem final, revelando um resultado inovador, de que um comando dado pelo pesquisador por meio de frases “Não têm opção, você deve continuar”; "É absolutamente essencial que você continue”, possuíam maior influência do que as consequências de sua ação no “aluno” (Salomone & Fariña, 2013).
Conclusão
A partir da tentativa de explicação deste fenômeno, tanto Milgram quanto sociólogos, filósofos e pesquisadores formularam teorias, e levantaram algumas hipóteses. Dentre elas, encontra-se uma forte influência das instituições modernas, que inserem os arranjos sociais nos quais iremos construir nossas interações sociais. Sendo assim, mais do que uma característica de personalidade do indivíduo a ter uma tendência à crueldade, os padrões de interações sociais inseridos pela instituições modernas, teriam um impacto mais significativo nas ações dos indivíduos.
Giddens (1991, citado em Dahia, 2015) realiza uma ótima reflexão acerca do impacto dos reguladores da instituição moderna, em que os sistemas com que nos relacionamos estão cada vez mais distantes e “abstratos”. Sendo assim, as relações de confiança antes eram fundamentadas de forma concreta e física, o que configura o que ele diz como compromisso com “rosto” (Giddens, 1991:91, citado em Dahia, 2015).
A partir do distanciamento dos relacionamentos no tempo e no espaço, a confiança é creditada em representantes especialistas deste sistema, que muitas vezes são considerados detentores do conhecimento. Sendo assim, as relações estruturadas por meio dessa dinâmica, implementam a relação entre um leigo e um detentor de saber (autoridade), e para que o leigo recusasse a executar o experimento ele teria que assumir um papel de “arrogância” e não competência, entrando em um outro tipo de regulador social da sociedade moderna a “vergonha”.
Outra perspectiva de explicação é dado por Hannah Arendt (2004, citado em Dahia, 2015) que introduz a questão da responsabilidade moral. Ela expõe acerca da diferença entre obediência e consentimento, e agrega que nenhum aspecto moral se configura como um simples ato de obedecer, pois isentaria a responsabilidade do sujeito sobre suas ações. Acrescenta que o ato de consentimento, visto no experimento de Milgram, mostraria o processo de escolha do indivíduo em confiar nos sistemas ditos “peritos”, isentando-se assim da responsabilidade pessoal.
Dicas para filmes e documentários:
O experimento de Milgram (2015) - disponível na Netflix
Referências
Dahia, S. L. M. (2015). Da obediência ao consentimento: reflexões sobre o experimento de Milgram à luz das instituições modernas. Revista Sociedade e Estado, 30(1), 225-241. doi: 10.1590/S0102-69922015000100013
Salomone, G. Z., Fariña, J. J. M. (2013). El experimento de Stanley Milgram: cuestiones éticas y metodológicas. Revista Internacional sobre Subjetividad, Política y Arte, 9(1), 7-14. Disponível em: http://aesthethika.org/IMG/pdf/AEV9N1_02_Salomone_MichelFarina_Cuestiones_etico_metodologicas.pdf
UNESCO Office in Brasília (2019, Janeiro, 25). Dia internacional em memória das vítimas do holocausto. Recuperado de http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/international_day_of_commemoration_in_memory_of_the_victims-3/
Veloso, A. M. (2017, Setembro, 25). O desconcertante experimento de Milgram sobre o comportamento humano. Recuperado de https://www.huffpostbrasil.com/entry/o-desconcertante-experimento-de-milgram-sobre-o-comportamento-humano_br_5c33aa2ae4b04c1cccfd6088
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