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Como você respira? Um guia para todos os domingos de descanso.

A maior parte do que sabemos é ensinado, até mesmo funções vitais que achamos saber desde que nascemos são moldadas ao longo da vida, e é sobre uma delas que vamos falar hoje, a respiração.


Antes de continuar, a gente quer saber: Como você respira?


Pra descobrir, basta fechar os olhos e colocar uma mão no meio do peito e outra no umbigo. Respirar pelo nariz no ritmo costumeiro e atentar para qual mão mais se mexeu, se foi a mão do peito, sua respiração tem um padrão mais torácico, se foi a do umbigo, é mais abdominal.

Lowen (1984) afirma que não respirar de forma sadia é o principal obstáculo para recuperar a saúde emocional, mas o que seria uma respiração sadia?


“A respiração sadia contempla a inspiração, que inicia com o movimento do abdômen expandindo para fora e relaxando seus músculos no momento em que o diafragma se contrai, esta expansão em seguida atingirá o tórax também. Na expiração o peito cede e uma onda de contração chega até a pélvis provocando uma sensação de fluidez em toda a frente do corpo” (Lowen, 1984)


E pra que quisemos saber como você respira? Porque esse padrão torácico - majoritário na população - indica uma respiração incompleta, para uma respiração completa o ar que você puxa deve atravessar todo seu corpo, mas o que ocorre é que esse ar é restrito pela contração muscular.


Respirar interfere nas nossas emoções?


Tente se lembrar de como você respirou depois de correr muito, quando estava rindo demais e quando “chorou de soluçar”. Em todas essas situações sua respiração estava diferente, adequada ao seu estado emocional. Quando uma criança chora é comum ouvirmos “segura esse choro”, mas para segurar o choro é necessário segurar a respiração, tensionar o peito - para conter a raiva - e apertar a garganta - para evitar um grito (Lowen, 1984).


“Esta contração inicia de forma consciente, porém quando se torna crônica, tanto a contenção como o seu respectivo sentimento se tornam permanentemente inconscientes (Lowen, 2007). Quando crescemos, permanecemos inibindo a respiração para reprimir os sentimentos. Por estes motivos, Reich (1998, p. 346) afirma que ‘a atitude de inspiração é o instrumento mais importante para a repressão de qualquer tipo de emoção’.” (Vieira, Vieira, Fernandes, & Reichow, 2018b).


Além de Lowen, diversos outros autores e vertentes das mais diversas fazem a relação da respiração com as emoções “na prática do yoga sobre o controle da respiração no texto secular do Hatha Pradipika: ‘Enquanto a respiração estiver irregular, a mente estará instável, mas, quando se aquieta a respiração, a mente também o fará e o yogin viverá longo tempo; deverá, então controlar sua respiração.’ (Souto, 2009). No tratado clássico de acupuntura Su Wen: ‘Quando a energia tiver em excesso, irá ocorrer respiração acelerada, tosse e reversão ascendente da energia do paciente; quando a energia estiver insuficiente, irá ocorrer respiração difícil e pouco alento.’ (Wang, 2001). Na bíblia cristã: ‘E formou o senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.’ (Gênesis 2:7). Curiosamente em diversas culturas, o termo designado para a respiração é o equivalente ao espírito ou a energia vital, tais como: prana (sânscrito), qi (chinês), pneuma (grego), ruach (hebraico) e spiritus (latim).” (Neves, 2011).


Então só respirar certo vai curar tudo?


Lowen (1984) diz que simplesmente respirar sadiamente não é capaz de restaurar a espontaneidade desses estados que aprendemos a restringir. É muito mais fácil ativar os estados de estresse que os de relaxamento, para tanto técnicas de respiração são usadas de forma complementar em diversas abordagens da psicologia e até como forma de manejo do estresse fora do contexto psicoterapêutico. Os treinos de respiração são basicamente o controle voluntário [da respiração] para redução do estresse e promoção do bem-estar biopsicossocial e espiritual (Neves, 2011; Vieira, Fernandes, Reichow, & Bernardo, 2018a), e tal qual o dito, são treinos; exercício contínuo e progressivo.


E como a respiração é usada na psicologia?


Os treinos de respiração são usados mais sistematicamente na TCC - Terapia Cognitivo-Comportamental - e mostraram-se efetivas complementarmente em diversas outras abordagens, mas ainda são poucos os estudos que tratam especificamente sobre respiração, é preciso mais evidências científicas para se falar na eficácia e segurança da gestão do estresse e de doenças associadas pela via da respiração (Neves, 2011, Vieira et al., 2018a).

Na TCC essas técnicas são usadas “com a finalidade de diminuir a função do sistema nervoso autônomo simpático - associado ao estresse - e promover a função parassimpática implicada na resposta de relaxamento” (Neves, 2011).


Neves (2011) explica que existem três vias da ação do relaxamento e que a necessidade do paciente que definirá qual será a utilizada:

  • métodos com orientação cognitiva (ex. imaginação guiada) têm efeitos cognitivos específicos (ex. distração e/ ou reestruturação cognitiva) e seriam mais indicados para problemas comportamentais (ex. fobia social);

  • métodos com orientação autonômica (ex. respiração diafragmática) têm efeitos autonômicos específicos (ex. diminuição da atividade simpática e aumento da atividade parassimpática) e seriam mais indicados para redução da atividade autonômica e problemas associados (ex. estresse, hipertensão arterial)

  • métodos com orientação muscular (ex. relaxamento muscular) têm efeitos musculares específicos (ex. diminuição do tônus muscular) e seriam mais indicados para problemas musculares (ex. cefaléia tensional).


(Neves, 2011)


“Sbissa (2014) explica sua escolha pela respiração controlada de 6 ciclos por minuto, por estar vinculada a estudos que concordam sobre sua capacidade de levar o organismo a uma coerência cardiorrespiratória. Além disso, a proporção 1:2 entre inspiração e expiração valoriza a atividade parassimpática, reduzindo a frequência cardíaca e aumentando a VFC.” (Vieira et al., 2018a)


E quais são os benefícios?


Neves (2011) afirma que é necessário um modelo mais sistemático da utilização das práticas de respiração, mas que existem pelo menos três efeitos: a redução da estimulação ambiental, o desenvolvimento de concentração e outras habilidades cognitivas, e progressiva aquisição de estruturas cognitivas que tornam mais fácil entrar nesse estado de relaxamento.


(Neves, 2011)


Vieira et al. (2018a) contam de um experimento que comprovou que “a prática de 15 minutos de duas técnicas respiratórias (KPB e BA) causam uma modulação no SNA levando, respectivamente, a uma maior capacidade de atenção seletiva e um estado de alerta relaxado”. Contudo, os autores também falam dos riscos de práticas inadequadas como a potencialização de estados ansiosos, consciência de tensões antes despercebidas, desencadeamento de episódios maníacos, entre outros.


P.S: Ressalta-se a importância do acompanhamento profissional em práticas voltadas à introspecção e alteração da consciência.


Que tal tirar uns minutos todos os dias para pensar: Como eu respiro?


Referências

  • Lowen, A. (1984). O prazer de estar cheio de vida. In A. Lowen (Aut.) Prazer: uma abordagem criativa da vida (pp. 29-54), São Paulo: Summus.

  • Neves, A. R. N. (2011). Técnicas de respiração para a redução do estresse em terapia cognitivo-comportamental. Arq Med Hosp Fac Cienc Med Santa Casa, 56(3), 158-168.

  • Vieira, F. M., Fernandes, F. S., Reichow, J. R. C., & Bernardo, M. Q. (2018a). O trabalho respiratório como ferramenta psicoterapêutica: uma revisão embasada na Psicologia Corporal. Revista Latino-Americana de Psicologia Corporal, 7. 83-107.

  • Vieira, F. M., Vieira, A. S., Fernandes, G. J. R. C., & Reichow, J.R. C. (2018b). A respiração como ferramenta de intervenção da psicoterapia corporal In J. H. Volpi, & S. M. Volpi (Org.), Psicologia Corporal, Curitiba: Centro Reichiano.

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