A maternidade é uma construção social e sua forma se modificou ao longo dos séculos e de acordo com o contexto histórico, político, econômico, etc (Resende, 2017 & Zanello, 2018).
O mito do amor materno surgiu no fim do século XVIII, não é que não havia amor antes disto, porém adquiriu importante valor social e familiar (Resende, 2017). É interessante considerar que na Idade Média, o recém nascido era entregue para o Ama-de-leite), com que ficava até os 8 anos; depois, era enviado para estudar em locais como internatos e conventos (Resende, 2017 & Zanello, 2018). Ademais, as carícias e afeto entre mãe e filhos eram vistos de forma negativa (Resende, 2017).
A grande mudança foi que o amor espontâneo pelos filhos passou a ser naturalizado e glorificado. Segundo Zanello (2018, p. 129), "não amar os filhos tornou-se um crime, um aberração, a qual deveria ser evitada, ou sendo impossível, disfarçada".
Outro ponto importante é que nem toda maternidade é desejada, e isto foi negado com o avanço da medicina "da afirmação de que toda mulher poderia ser mãe, a medicina concluiu que a mulher não poderia ser outra coisa que mãe" (Zanello, 2018, p. 132). Logo, ser mãe virou uma obrigação social.
As mães tiverem e tem que abdicar de muitas coisas pelos filhos e a maternidade como uma forma de "empoderá-las". Dar a luz é visto como algo nobre e o lugar de mãe se tornou aclamado. O discurso vigente era de que as mães eram responsáveis pelo futuro das nações (Resende, 2017 & Zanello, 2018).
Porém, esse suposto empoderamento citado é colonizado (Zanello, 2018). Tal paradigma teve inicio na Europa em crise econômica e a finalidade era aumentar a natalidade e reconduzir as mães para o papel materno. Mas, por trás da ideia filosóficas da criança como um bem insubstituível, elas tinham valor por ser uma futura mão de obra (Resende, 2017).
Uma perspectiva que domina até hoje é que: "uma boa mãe deveria assim se apagar em favor de suas responsabilidades para com seus filhos(e marido), com a promessa de atingir a felicidade ("ser mãe é padecer no paraíso")" (Zanello, 2018, p. 135).
Por fim, é relevante pensar em todos sofrimentos decorrentes dessas construções. As mães estão sob constante:
· julgamento da sua maternagem
· carga mental (tem que gerenciar o lar e os filhos (comida, cuidados, etc)
· desigualdade no mercado de trabalho
· pressão social pelas suas responsabilidades
Assim, muitas vezes, a mulher se encontra exausta e culpada por estar sobrecarregada e não dar conta de tudo “perfeitamente”.
Quais outros sofrimentos psíquicos advém das imposições idealizadas da maternidade?
Referências:
Resende, D. K. (2017). Maternidade: uma construção histórica e social. Pretextos – Revista da Graduação em Psicologia da PUC Minas, 2(4), pp. 175-X.
Zanello, V. (2018). Saúde mental, gênero e dispositivos: cultura e processos de subjetivação. Curitiba: Appris.
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