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Espiritualidade e Psicologia

Atualizado: 22 de abr. de 2020

Espiritualidade e Religiosidade

A equipe do afete-se decidiu hoje trazer um pouco da relação da psicologia com a espiritualidade/religiosidade. Como domingo foi de páscoa, decidimos refletir como essas dimensões, supramencionadas, permeiam o campo da psicologia.

Antes de tudo, cabe ressaltar que a psicologia se configura como uma ciência laica. O código de ética dos psicólogos coloca em ênfase essa questão no Art. 2º alínea b em que é vedado ao psicólogo:

“induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais.”

Isso quer dizer que, em sua atuação, o psicólogo deve apenas atuar utilizando-se de técnicas reconhecidas e fundamentadas na ciência psicológica e ética da profissão. Sendo assim, é vedado ao psicólogo o uso de práticas religiosas para fins de seu exercício profissional. Sendo isso exposto, cabe considerar que os psicólogos não excluem a dimensão da espiritualidade/religiosidade do seu exercício profissional.

A espiritualidade segundo a OMS (1988, citado em Oliveira & Jungues, 2012) é um componente multidimensional da saúde, relacionado à busca de sentido e significado da vida, no qual não se limita a uma convicção aliada a uma religião. Complementando esta visão, Peres, Simão e Nasello (2007) corroboram a visão da espiritualidade aliada a busca de sentido e significado e também relacionando-a com o sagrado e transcendente.

A partir desta definição de espiritualidade, é possível diferenciá-la da religião, em que é apresentada pelos autores Peres, Simão e Nasello (2007) e Oliveira e Jungues (2012), como uma instituição que possui características doutrinárias, crenças e rituais, nos quais se acreditam que por meio deles é possível a aproximação com o sagrado. Pode-se, portanto, perceber a diferença no sentido dos caminhos que podem ser utilizados para vivenciar as questões relacionadas aos aspectos espirituais. A religião se configura como uma das formas de vivenciar a espiritualidade, contudo, esta última é mais ampla, vista como uma dimensão humana de busca de sentidos, reflexões profundas e filosóficas.

A partir destas explanações, é possível inserir a pergunta, como então o psicólogo pode atuar em frente a estas questões, já que é considerada umas das dimensões envolvidas na composição da saúde dos indivíduos?

No texto de Peres, Simão e Nasello (2007) os autores trazem alguns questionamentos levantados por Post et. al (2000) que são eles:

“Deve o médico/psicólogo discutir temas espirituais com seus clientes? Quais são os limites entre o médico/psicólogo e o cliente que consideram temas religiosos e espirituais? Quais são os limites profissionais entre o médico/psicólogo e o capelão/orientador espiritual? (p. 138)”.

Acerca disso, diante da presença de tais temas de forma recorrente nos âmbitos de atuação do psicólogo, este profissional deve estar preparado eticamente para tratar de tais assuntos, de forma que mantenha-se o limite entre as crenças e os valores do profissional psicólogo. Este sempre deve estar avaliando se suas intervenções estão aliadas ao benefício do processo terapêutico.

A Associação Psiquiátrica Americana (Giglio, 1993, citado em Peres, Simão & Nasello, 2007) estruturou um guia para auxiliar psicoterapeutas na forma de lidar com crenças religiosas, enfatizando a importância da postura empática, na atenção à pessoa, e não na doença, assim como na importância do treinamento deste terapeuta e o vínculo estabelecido entre terapeuta-paciente. Com isso, a Associação Psiquiátrica também recomenda alguns procedimentos para abordar estas questões em psicoterapia sendo alguns deles: avaliar se as queixas acerca da espiritualidade e religiosidade possuem relevância clínica; demonstrar o uso de recursos espirituais/religiosos no tratamento psicológico; investigar o papel da religião e da espiritualidade nas crenças do paciente; treinar intervenções apropriadas e se atualizar acerca da ética sobre temas religiosos e espirituais; identificar idealizações religiosas e analisar se elas são relevantes para se abordar clinicamente.

Por fim, cabe ressaltar, que o psicoterapeuta deve estar apto eticamente a abordar essas questões de forma cuidadosa embasada em elementos científicos, pois, muitas vezes, os conteúdos espirituais e religiosos revelam acerca das ferramentas que o paciente possui para lidar com suas dificuldades.



Referências

Peres, J. F. P., Simão, M. J. P., & Nasello, A. G. (2007). Espiritualidade, religiosidade e psicoterapia. Rev. Psiquiatr. clín. 34 (1), pp. 136-145. doi. https://doi.org/10.1590/S0101-60832007000700017.

Oliveira, M. R. & Jungues, J. R. (2012). Saúde Mental e espiritualidade/ religiosidade: a visão de psicólogos. Estudos de Psicologia 17 (3), pp. 469-476. doi. https://doi.org/10.1590/S1413-294X2012000300016

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