Hoje é o dia Nacional de combate às Drogas e o Alcoolismo. Devido a ser um tema multidimensional, o afete-se decidiu trazer um pouco mais sobre as questões que envolvem o alcoolismo e, posteriormente, abordar também, sobre o impacto das drogas ilícitas e suas especificidades.
A grande questão que circula o álcool é, muitas vezes, as contradições que envolvem o seu uso. Por ora, ele é incentivado e tolerado, em uso moderado, pela sociedade, em outro, é discriminado quando usado em excesso e fora de controle (Heckmann & Silveira, 2009). Porém, cabe refletir, quais são os limites entre a moderação e o excesso?
Vários autores buscaram definir o que seria o alcoolismo. Segundo Heckmann e Silveira (2009), desde os tempos mais remotos, ele estava associado a uma forma de apoio às relações sociais, ou seja, vinculado a um status social. Com o passar do tempo, as definições se atualizaram, e passaram a conferir ao alcoolismo o caráter de doença. Morton Jellinek (1960, citado em Heckmann e Silveira, 2009) explicou que um alcoolista é aquele em que o uso de bebidas alcoólicas prejudica a si, os outros e a sociedade. O autor obteve como base a quantidade de álcool consumido.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) interpreta o alcoolista como aquele que bebe excessivamente, e que a dependendência a substância propicia perturbações mentais, físicas, comportamentais, relacionais, econômicas e sociais.
O principal componente das bebidas alcóolicas é o etanol, assim, o nível de álcool no sangue é mensurado a partir da quantidade dessa substâncial no sangue. O etanol é a altamente permeável, com rápida absorção que ocorre principalmente no intestino delgado; ademais, a maior parte é metabolizada pelo fígado.
Uma dose de bebida alcoólica contém de 70 a 100 Kcal, contudo, essas são isentas de proteínas, minerais e vitaminas. Cabe ressaltar que alguns indivíduos metabolizam o álcool melhor do que outros, entretanto, a resistência aos efeitos da substância podem ser resultantes do desgaste do organismo.
O consumo considerado abaixo do limiar de risco é de 60 g de álcool puro/dia para os homens e, para as mulheres, 40g/dia. Todavia, as consequências físicas do uso do álcool começam a surgir de 4 a 6 anos após o início do consumo nos adolescentes, e de 6 a 8 anos para os adultos. Então, considera-se que muitas vezes os danos progridem de forma silenciosa.
Sinais e Sintomas relacionados ao uso agudo e crônico do álcool
Segundo Dubowski (1985, citado em Heckmann e Silveira, 2009 ) são eles:
rubor e inchaço moderado da face
inchaço das pálpebras
olhos lacrimejantes
hálito alcoólico
falta de coordenação motora
vertigens e desequilíbrio
suores
tremor fino nas extremidades
vômitos matinais
dores abdominais
taquicardia
tosse crônica
No IV Manual Diagnóstico Estatístico (DSM- IV), a dependência por esta substância é definida como a repetição de problemas decorrentes do álcool em, pelo menos, três das sete áreas de funcionamento, ocorrendo de forma conjunta, por um período de doze meses. A dependência ocorre em homens e mulheres de todas as raças e classes socioeconômicas. O uso abusivo do álcool pode encurtar a expectativa de vida em uma década ou mais.
Os usuários apresentam tanto sintomas físicos, que se revelam como sinais de abstinência (tremores, náuseas e vômitos), quanto psíquicos (insônia, ansiedade, humor depressivo). A tolerância aos efeitos do álcool, também é um dos sintomas.
Em relação às doenças que podem se desenvolver são: depósito anormal de gordura no fígado, hepatite, pancreatite, atrofia do cerebelo, infertilidade, impotência, distúrbios de coordenação, delírios, alteração de humor e demência causada pelo álcool.
Os sintomas psicológicos possuem três elementos principais:
alteração do comportamento com o uso do álcool
a perda do controle
alto desejo de consumi-lo (nunca há uma satisfação)
Os transtornos mentais associados a esta doença são o delirium tremens, a demência de Korsakoff, as perturbações psicóticas de humor, da ansiedade ou do do sono; e disfunção sexual.
Além disso, o uso abusivo desta substância também ocasiona prejuízos no trabalho, desorganização familiar, acidentes de trânsito, exclusão social e comportamentos agressivos.
Os conceitos de padrões de consumo de álcool levam em consideração tanto questões médicas, quanto psicossociais. Os 3 padrões presentes na literatura científica são:
uso moderado
beber pesado (BP) - qualquer consumo de bebidas alcoólicas acima de duas doses, por dia, para homens, e de até uma para mulheres.
beber pesado episódico (BPE) - consumo de cinco ou mais doses em uma ocasião por homens, ou quatro por mulheres
Quando fala-se em uso moderado, geralmente, o termo é confundido com beber socialmente. Este último está atrelado a quantidade de ingestão da substância que é aceita socialmente. O uso moderado, por muitas vezes, é visto de forma errônea, como se não pudesse ocasionar efeitos adversos na vida da pessoa.
Segundo a OMS, para que a pessoa não venha a desenvolver problemas com álcool o futuro o consumo aceitável é de 15 doses/semana para homens e 10 para mulheres, sendo que uma dose equivale a 350 ml de cerveja, 150 ml de vinho, ou 40 ml de uma bebida destilada.
Fatores de risco para a dependência alcoólica e aspectos diagnósticos
Segundo as autoras,Heckmann & Silveira (2009) para que haja o desenvolvimento da doença é necessário que a pessoa reúna certas características psicológicas, ou determinados traços de personalidade. Contudo, cabe ressaltar, que não há um “tipo de alcoólatra” específico, pois além de variações no caráter e temperamento (ex. dificuldade em lidar com situações de conflito), há padrões individuais de consumo da bebida.
Muitas vezes o álcool é utilizado devido a seus efeitos psicodinâmicos. Um dos tratamentos é a ressocialização deste indivíduo, desenvolvimento de competências suas sociais e a construção de uma identidade sem o álcool.
Algumas medidas preventivas existentes são: difusão do conhecimento para pessoas relacionadas com o tema; inclusão deste conteúdo na grade curricular escolar; deliberação política para proibição do uso do álcool por pessoas impróprias (gestantes, crianças).
Tratamento
É necessário intervenções em diversos campos, pois a doença é complexa e afeta diversos setores como familiares, sociais e profissionais.
As intervenções terapêuticas são indicadas tanto para o tratamento da abstinência, quanto da dependência. Algumas intervenções psicoterapêuticas são as terapias de grupo Alcoólicos Anônimos -AA, e as intervenções psicofarmacológicas (Heckmann & Silveira, 2009).
Psicoterapia
O processo psicoterapêutico é indispensável no tratamento do alcoolista. Nele, o indivíduo é capaz de discutir as causas que levaram ao alcoolismo estabelecer estratégias e objetivos para manutenção da abstinência. Existem diversos métodos de intervenções na psicoterapia. Embora não seja possível provar uma total eficácia, eles exercem grande impacto no processo de maturação psicológica e na reinserção sociofamiliar do doente. O tratamento é programado a longo prazo, voltado também para os familiares.
Algo a acrescentar sobre a eficácia dos tratamentos, mesmo aqueles de longo prazo obtêm pouco sucesso com os dependentes de álcool. Por isso, os tratamentos devem ser conduzidos de forma multidisciplinar, com intuito de que o alcoolista mantenha sua abstinência por maior tempo possível. O objetivo é uma redução de danos em sua saúde e em seu meio social. As medidas são implementadas em curto, médio e longo prazo, vinculadas a serviços ambulatoriais (ex. hospitais dia) e atividades realizadas em grupo (ex.AA).
Em Brasília um dos serviços de referência para tratamento do alcoolismo são os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas. É um serviço público de saúde que atende indivíduos a partir dos 16 anos que apresentam sofrimento psíquico intenso em decorrência do uso de álcool e outras drogas.
Informações sobre endereços e telefones no seguinte link: http://www.saude.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2018/10/Telefones-CAPS_02_08_19.pdf
Referências
Heckmann, W.; Silveira, C.M. Dependência do álcool: aspectos clínicos e
diagnósticos. In: ANDRADE, A.G.; ANTHONY, J.C.; SILVEIRA, C.M. Álcool e suas consequências: uma abordagem multiconceitual. Barueri (SP): Minha Editora; 2009. p. 67-87.
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